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Desafios para o Teste em Tempos de Crise

Desafios para o Teste em Tempos de Crise

É correto afirmar que o confinamento social recomendado pela OMS, para conter a velocidade da contaminação do COVID-19, trará grandes transtornos e exigirá de todos os setores da economia flexibilidade e criatividade para garantir a continuidade mínima na produção dos produtos e serviços.  Podemos também considerar que o grau de dificuldade varia de acordo com o setor, bem como os meios conhecidos que os setores já possuem para lidar com a crise sanitária global.  Entretanto, o que nos importa aqui, é o setor de TI.

Esse setor, que há muito tempo já utiliza a prática do Home Office, em teoria, tendo em mãos a infraestrutura de comunicação estável (VPN), poderá realizar suas atividades normalmente.

A missão para a maioria dos profissionais de TI não parece ser tão difícil, ainda mais quando a organização dispõe de ferramentas apropriadas de apoio na comunicação para trocar informações, agendar e realizar reuniões de entendimento, planejamento, posicionamento ou qualquer que seja o teor. Mas então, onde pode estar a armadilha e desafios para o teste, neste contexto, aparentemente não tão turbulento assim?

De acordo com o PMI (Project Management Institute), em pesquisa realizada em 2017, falha em comunicação foi uma das 10 principais causas de falha na entrega de projetos “A comunicação ineficaz teve um impacto negativo na execução bem-sucedida do projeto” pmi.org. É evidente que tal problemática não se aplica apenas ao teste, mas a todas as atividades marcos do projeto. Sabemos que cada organização possui um nível diferente de maturidade no que tange ao processo de desenvolvimento de software e teste, e que isto significa que quanto maior o nível de maturidade, melhor a fluidez na comunicação entre as equipes e que, independente da metodologia adotada, a boa comunicação é a condição para o sucesso de todos e, em particular, para entregar um projeto com a qualidade almejada. Assim sendo, aparentemente não existe problema algum, basta haver um excelente plano de comunicação e que o executem de forma perfeita, certo?

Não, não é tão simples, primeiro porque estabelecer um belo plano de comunicação já é um desafio por si só. Segundo que as atividades de testes, para serem bem sucedidas, dependem,  em muitas ocasiões, da participação efetiva dos demais envolvidos, afinal de contas, não é mais possível que “cada um fique no seu quadrado”, como nas metodologias tradicionais, pois se desta forma o teste já sofria com a pressão no prazo e descobertas tardia de bugs críticos, mesmo dispondo de extensa documentação, agora, na perspectiva dos modelos ágeis cuja diferença está justamente na formação de equipe única,  com reuniões face-a-face de modo a viabilizar a excelência na comunicação e tornar o ambiente colaborativo, temos um novo desafio.

Pois bem, não vamos discutir nessa breve reflexão o nível de adesão a um modelo ou outro. O que nos importa aqui é a questão do teste em si. Afinal, quais são seus novos desafios?

Como um dos agentes responsáveis pela qualidade dos produtos, equipes de testes devem se preocupar com as armadilhas existentes por conta da nova forma de comunicação. Isto, independente do modelo de desenvolvimento adotado pela organização, que em muitas ocasiões não é nem tradicional nem ágil, e costumam rotulá-los de modelo híbrido, pois tem como intenção buscar a “melhor característica” de cada modelo.

Os desafios para o teste se referem ao estabelecimento adequado dos canais de comunicação junto aos envolvidos no projeto.  E aqui cabe um alerta, não se trata de simplesmente obter o telefone do desenvolvedor e passar a lhe enviar uma série de questões por telefone ou WhatsApp, pois, ao agir de tal maneira, o testador apenas demonstrará desconhecimento sobre a demanda e passará insegurança no que diz respeito à compreensão do projeto e, consequentemente, ao que deve ser testado. Em vez disso, sugere-se aos testadores que se atentem à:

Estabelecer junto à equipe um meio necessário de comunicação;

Você deve estar se perguntando “Oras, mas não é essa a função do gerente de projeto?” Pois bem, normalmente sim, mas não custa ao testador a precaução desse item de suma importância para o sucesso do teste. Vale ressaltar que é na fase do teste que os holofotes estão todos voltados para a equipe e, portanto, a pressão é significativamente maior. Caso necessário, sugira o uso de ferramentas para as comunicações, além do clássico e-mail.

Estabelecer, quando necessário, reuniões de pontos de controle periódicos;

Testadores devem se preocupar em agregar valor ao projeto, sua contribuição deve ser notada pela equipe e os relatórios propiciam a demonstração na medida certa, quando aplicado adequadamente, ou seja, apresentar com fatos e números um quadro geral do status da qualidade do sistema sob teste.

Desenvolver um plano de teste simples no qual todos possam fazer parte e sentirem-se responsável;

Esse documento, com foco total no teste, pode servir como um plano de comunicação, pois, ao estabelecer as condições de testes, tem-se em comum acordo um escopo definido. Assim, o monitoramento e controle se torna mais fácil, uma vez que todo acompanhamento tem como origem o que foi “combinado” no plano. Seguir o plano, alterar quando necessário para eventuais correções de desvio e seguir adiante. Ao enviar o plano solicite ao grupo uma leitura prévia e agende uma reunião usando ferramenta de coletivo acesso (ferramentas para realização de vídeo-conferência).

Definir uma estratégia para relatar os bugs aos desenvolvedores;

Esse tipo de comunicação é particular. Em se tratando do momento da execução dos testes, o principal meio de comunicação entre testador e desenvolvedor é o relatório de bugs. Se a equipe dispor de ferramenta de registro e workflow para acompanhar o ciclo de vida dos bugs, excelente. O que é necessário enfatizar neste quesito é a precisão e cuidado ao relatar um bug. Quando a equipe não dispõe de ferramentas, é importante combinar um meio para reportar o defeito (seja via e-mail ou outra ferramenta), bem como combinar um acordo de nível de serviço para tratamento dos bugs. A formalização pode ser notada no plano de teste. O uso de ferramentas que possibilite bate-papo “chat” são muito úteis, porque muitas vezes há dúvidas importantes e pontuais que podem ser resolvidas instantaneamente apenas com uma curta conversa. Em outra ocasião, o desenvolvedor poderia estar ao seu lado, literalmente, ou em um departamento a alguns metros ou andares de você. Mas, no cenário da crise que estamos lidando, ele pode estar a quilômetros.

Combinar com equipe a emissão de relatórios resumo;

Um relatório resumo tem como objetivo não apenas informar a quantidade de testes que faltam e os recursos que ainda restam para serem aplicados. Ele tem como missão principal demonstrar de forma mais objetiva possível o nível de confiança estabelecido até o momento. Se os testes passam e encontram poucos bugs e, sendo esses de baixa criticidade, então o nível de confiança é bom. O inverso disso, ou seja, no caso de encontrar muitos defeitos e sendo alguns de alta criticidade, o nível de confiança no sistema ainda é baixo, o que certamente exigirá mais atenção.

Por fim, ter em mente que o relatório resumo tem como ponto de partida o escopo definido no plano de teste, isto é, as condições de testes identificadas em comum acordo junto à equipe.

O relatório pode ser discutido e enviado utilizando uma ferramenta que assim o possibilite. Além do tradicional e-mail, essas permitem organizar grupos de discussões, compartilhamento de telas, arquivos de vários formatos e algumas são capazes de manter histórico.

Para finalizar:

Sendo o teste a esteira final da produção, é importante que testadores estejam cientes das dificuldades que podem surgir. Porque diante desta crise sanitária, na qual as pessoas precisam estar distantes fisicamente, a preocupação com a comunicação deve ser redobrada. Portanto, ficam as dicas da aplicação das boas práticas aliadas ao uso pleno das ferramentas expostas acima, pois certamente isso pode fazer a diferença para o bom desempenho das atividades relacionadas à qualidade do software.

Por Edmilson Cavalcante Torres

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